Em Busca do Conhecimento

Eu sou Andréia, mulher, filha, esposa, nora, mãe, professora e aluna. Vivo em Alvorada, na vila São Pedro onde também trabalho no turno da manhã, em uma escola municipal (Escola Cléo dos Santos-4ª série) e no turno da tarde em uma escola estadual (Instituto Nossa Senhora do Carmo-1ª série) localizada em uma outra vila de Alvorada. Tornei-me professora por vocação e ousadia. Minha inspiração veio do convívio com uma professora que trabalhava em uma creche comunitária.
Em 1990, ao observar seu trabalho, na pré-escola da creche, percebi que ela ia muito além de ensinar os alunos. Com sua didática conseguia entrar no campo afetivo e social dos alunos e seus familiares. Foi neste momento que tive a coragem de assumir, apesar de diversas dificuldades, aquilo que queria fazer. Penso que neste momento também tive ousadia para enfrentar as dificuldades da busca sobre a escolha feita, independente do tipo de relação social que teria que estabelecer para alcançar isso, desde que percebi que a razão de minha escolha estava firmada. Eu tinha uma certeza, de me tornar professora.Por vários motivos formei-me no curso de secretariado. Trabalhei em alguns escritórios, mas acabei sendo convidada a trabalhar na creche comunitária pela professora que me inspirou ao magistério. Assumi o cargo de professora, na época leiga. O convite me fez despertar para o sonho de ser professora (os desafios, a busca do desconhecido).
A partir daí me envolvi com estes trabalhos sociais, primeiro na creche e depois na associação de moradores do meu bairro, como professora de pré-escola. Minha busca foi pela formação em um curso de magistério intensivo. Minha formação aconteceu aos 26 anos, aos 28 entrava no Município e aos 30 no Estado.Hoje vivencio ser professora como uma tarefa importante em nossa sociedade. Temos grande responsabilidade de formarmos cidadãos atuantes e críticos. No texto de Saramago, “A ilha desconhecida”, o mar é colocado como horizonte, mas diferenciado pelo mistério que ele contém. Primeiramente, parece uma calmaria, entretanto, dentro do mar tem-se que saber sobre as coordenadas de navegação, a direção dos ventos.
Quando assumi minha responsabilidade de ser professora o mundo do ensino era como se fosse o mar pelo qual eu estava fascinada, porém dentro da profissão, navegando nesse mar, aprendi a não andar sozinha, são várias as ferramentas que temos que buscar para enfrentar as tempestades sem perder as coordenadas. Muitas vezes idealizamos nossos sonhos, mas não conseguimos dar andamento na realização sozinhas, a caravela precisa de uma tripulação, um grupo de professores para discutir o currículo, o projeto político pedagógico (ppp) e a didática da escola.
Como professora, para contribuir com a formação de um cidadão atuante na sociedade, preciso de todo o grupo de professores da escola. Posso influenciar meus alunos com questionamentos e desafios, mas necessito ser questionada e desafiada, pelo grupo de professores, direção, planejamento e PPP.
Tenho ousadia para estar no curso de Pedagogia à distância, da UFRGS, pois fiz o vestibular e estou cursando esse curso para aprender, evoluir e relacionar-me com pessoas que pensam de maneira semelhante a eu e também com as que pensam diferente, que me desafiarão. Também assumo a ousadia de pensar que exerço um papel importante na minha comunidade e nas vilas de Alvorada, porque atuo com meus alunos questionando-os, provocando-os, desafiando-os, com minha contribuição para que, um dia possam se tornar cidadãos atuantes.
Tenho medo do que me é desconhecido. Dificuldades que podem surgir no curso: turmas novas, no início do ano e até, de chegar tarde em casa, quando volto do pólo. Mas esse medo vem acompanhado de uma certeza de que tenho que continuar – igual a “não posso parar”. A sensação do medo me faz ponderar, pensar com calma, ter tolerância, criar estratégias e relacionar-me com outras pessoas, assim vencendo o medo, a medida que o tempo e as tarefas, os estudos vão surgindo, como as diversas ilhas desconhecidas que temos que descobrir. Dentro desse novo contexto reflexiono sobre o texto de Saramago, outra vez na parte que fala sobre o mar. No emaranhado de ansiedade e medo e envolvida pelas novas pessoas, conhecimentos e tarefas do processo de formação que me dispus a fazer, como se fossem os mistérios que se escondem por baixo da calmaria do “mar”, encontro a solidariedade.
Dialogo com a maneira intrigante e decisiva que marca o encontro das personagens principais do texto de Saramago – a mulher da fachina e o homem que ganhou o barco. A solidariedade se revela na relação que os une em busca de seus sonhos. Quando a maioria das pessoas não têm ousadia e coragem de navegar em busca do desconhecido, precisamos nos agarrar àquelas pessoas que se pré-dispõem a nos acompanhar, por isso acho profundamente maravilhoso o momento, no texto de Saramago, em que o homem do barco acorda com a mulher da fachina ao seu lado, o que demonstra que ele tem conquistas mais consistentes do que só o barco para navegar... uma parte importante de sua tripulação. Sem solidariedade não navegamos em busca do desconhecido, principalmente, no caso de educadores.
Entendo por currículo um todo da escola, um programa, o conjunto de conhecimentos que são trabalhados pelos alunos. Penso que é necessário termos mais ousadia em nossos planejamentos. Uma escola é um barco que tem tripulação. Didática é a ousadia que vamos ter, sem perder a visão metodológica de nossa responsabilidade na formação dos cidadãos.
O PPP é um plano global que traça as metas de políticas pedagógicas a serem seguidas pelo grupo escolar. É um plano fundamental que contribui para consolidar a escola como um equipamento de representação social respeitável, politicamente, dentro da localidade na qual ela está inserida.